Trabalho de buscas por fugitivos de Mossoró é caro e ‘irracional’, diz ex-secretário nacional de segurança

Foto: Junior Alves

Passado um mês desde a fuga de Deibson Nascimento e Rogério Mendonça da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, a manutenção de equipes de busca de várias forças federais e estaduais é cara e “irracional”, na avaliação do coronel da reserva da PM José Vicente, ex-secretário nacional de Segurança Pública.

O especialista defende que as autoridades deveriam ter focado no trabalho investigativo e suspendido, já na segunda semana, as buscas ostensivas nas zonas rurais de Mossoró e Baraúna, no Oeste potiguar.

“São policiais que fazem falta na proteção da sociedade e estão cuidando de procurar apenas dois criminosos. O Rio Grande do Norte tem pelo menos sete mil criminosos procurados com mandados de prisão em aberto. E eles não recebem a mesma atenção. Então por que esses dois são tão mais importantes? Por que causaram uma vergonha para o governo federal, pela má gestão dos presídios? É um momento de se deixar apenas para a investigação. Não tem sentido fazer busca pelas casas como vem acontecendo”, considerou.

O ex-secretário apontou que os custos diários da operação envolvem as diárias dos profissionais, além dos salários regulares, combustível, gastos com helicópteros e outros equipamentos, mas preferiu não estimar o valor gasto até o momento.

Em entrevista nesta quarta-feira (13) o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski disse que o gasto é necessário, mas não detalhou os valores envolvidos.

“Nós temos uma ideia do custo dessa operação, que não é um custo baixo, mas o fato é que não podemos deixar a população local desamparada. Então isso justifica o número de agentes de segurança que estão aqui. Enquanto esse risco não se dissipar nós vamos manter esse efetivo”, declarou o ministro.

“É irracional manter essa estrutura de busca que estão fazendo para esse caso quando poderia ser usado um contingente menor de investigação”, pontuou o ex-secretário José Vicente.

Ainda segundo o coronel, os investigadores precisam buscar as ligações dos fugitivos dentro do Comando Vermelho, facção da qual fazem parte.

Segundo ele, a polícia pode contar com informantes que conhecem a estrutura do crime organizado e as pessoas que poderiam dar cobertura aos procurados.

“A investigação vai por uma série de caminhos. Já prenderam alguns que teriam dado alguma facilidade pra eles nos primeiros momentos e tem que prosseguir isso. Há uma diferença muito grande de colocar a polícia ali no campo, Força Nacional, Polícia Militar, porque ela vai chegando e é visível de longe. Enquanto que a investigação não é tão percebida assim pelos criminosos. A investigação tem mais eficiência nessa altura do que um trabalho de polícia visível, ostensiva”, pontuou.

Questionado se acredita que os fugitivos permanecem no Rio Grande do Norte, o especialista afirmou que é difícil dizer algo estando fora das investigações.

“Não dá para dizer. Eles podem ter apanhado um caminhão no meio de uma carga qualquer e ido para o Ceará ou pra outro estado. Eles são espertos, saíram de um presídio de segurança máxima. Eles sabem que quanto mais perto estiverem, mais fácil de ser atingido pela pelas ações de busca. Então é bastante provável que eles tenham já bem distantes aí. Pode ser que os encontrem aí, até. Como falei, as possibilidades estão em aberto. Mas o mais provável, na minha opinião, é que eles estejam já bem longe”, declarou.

Já o ministro Lewandowski afirmou que força-tarefa de buscas acredita que a dupla continua na região Oeste do Rio Grande do Norte. “Nós temos indícios fortes da presença dos fugitivos na região. Temos hoje uma convicção de que os fugitivos se encontram aqui ainda”.

Ele considerou ainda que o fato de a dupla ainda permanecer na região comprovaria um “êxito” das ações policiais na região. “O resultado prático a meu ver é que eles não conseguiram escapar deste perímetro, eles estão cercados. Se não fosse a eficiência das polícias eles já estariam distantes. Embora não tenham sido recapturados eles se mantêm nesse perímetro original”, ponderou.

30 dias de buscas

Os criminosos fugiram da penitenciária por volta das 3h da madrugada do dia 14 de fevereiro, quarta-feira de cinzas. O caso só foi descoberto no início da manhã. No mesmo dia, à noite, os criminosos invadiram uma casa que fica a 7 km do presídio e levaram roupas, calçado e outros itens pessoais.

Na madrugada do dia 16, roupas e pegadas foram encontradas por policiais na zona rural de Mossoró. O morador da casa invadida dois dias antes confirmou que uma colcha encontrada na mata era dele.

No mesmo dia, a força-tarefa que busca pelos dois fugitivos encontrou uma camiseta de uniforme de presidiário na Zona Rural de Mossoró. À noite, criminosos invadiram uma casa, renderam moradores, se alimentaram e roubaram celulares.

O último sinal obtido de celular dos fugitivos foi no dia 17, em área rural, perto da divisa do Rio Grande do Norte com o Ceará. Desde então, os dois celulares roubados silenciaram.

No dia 21, a Polícia Federal realizou uma operação e cumpriu um mandado de prisão em Mossoró contra um homem suspeito de tentar ajudar os fugitivos. Ele teria levado um carro do Ceará para Baraúna. Outras duas pessoas foram presas na operação.

No dia 23, o irmão de Deibson Nascimento, um dos fugitivos, foi preso no Acre. Ele é suspeito de roubo e participação em facção criminosa. Segundo a PF, a prisão foi um desdobramento da operação de recaptura dos dois fugitivos.

No dia 24, a polícia encontrou uma casa que teria sido usada como esconderijo pelos fugitivos do dia 17 de fevereiro até a sexta (23). Na segunda-feira (26), o dono da casa em Baraúna, usada como esconderijo pela dupla, foi preso. Ele passou por audiência de custódia na terça (27) e permaneceu preso.

Ainda durante as buscas, dois homens suspeitos foram vistos por agricultores em uma plantação na área rural de Baraúna na quinta-feira (29). Policiais da força-tarefa fizeram um cerco na região. A força-tarefa confirmou que os dois eram, de fato, os fugitivos de Mossoró.

No domingo (3), a força-tarefa fez um novo cerco em uma área rural de Baraúna onde investigadores acreditavam que os suspeitos teriam invadido galpões agrícolas e agredido o dono da propriedade quando ele disse que não tinha um celular. Desde então, os fugitivos não foram mais vistos.

Na última terça-feira (12), cães farejadores rastrearam presença humana em uma área de mata, mas os investigadores não confirmaram se o rastro era dos fugitivos.

G1 RN

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